Exploração do homem – análise marxista

A tese do materialismo histórico, defendida por Marx, diz que a evolução histórica se dá pelos confrontos entre diferentes classes sociais decorrentes da “exploração do homem pelo homem”. A teoria serve também como forma essencial para explicar as relações entre sujeitos. Assim, como em exemplos apontados por Marx, temos durante o feudalismo os servos que teriam sido oprimidos pelos senhores, enquanto que no capitalismo há a classe operária pela burguesia. As relações entre homens são caracterizadas historicamente por relações de oposição, antagonismo, exploração e complementaridade entre classes. A fim de ilustrar, lembra-se da frase de abertura do Manifesto (1848): “A história de toda a sociedade até hoje tem sido a história das lutas de classes.” Ou seja, seguindo as ideias marxianas, há muito tempo existe uma contínua exploração de uma minoria, estabelecida no poder, sobre a maioria dos trabalhadores, desde a antiga oposição entre patrícios e  plebeus, passando pela Idade Média com a servidão e a revolução industrial em meados do século XVIII.

O sistema capitalista inseriu, a partir da abundância de mão-de-obra, a característica de efemeridade, isto é, aumentar a exploração do trabalho cada vez mais, e isso se acentua até a contemporaneidade. Com todo o desenvolvimento da indústria moderna, a propensão de inclinar a balança a favor do capitalista e contra o trabalhador, resultando na tendência geral da produção capitalista que não é a de elevar o nível médio dos salários, mas sim de reduzir ou de pressioná-lo ao valor do trabalho até o seu limite mínimo. Um dos exemplos históricos que temos acerca do assunto, é a Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII na Inglaterra. Nesse contexto, o proletariado era obrigado a trabalhar até 20 horas por dia em condições insalubres que não priorizavam, em nenhum momento, a dignidade dos trabalhadores, como citado por Marx em O capital: “Como o enriquecimento dos fabricantes aumentou com a exploração mais intensiva da força de trabalho já é demonstrado pela circunstância de que o crescimento médio das fábricas inglesas de algodão(…).”

Para Marx, as desigualdades sociais observadas no seu tempo eram provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, que divide os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de produção.O trabalhador é pago pela sua força de trabalho, através de um salário cujo valor tende a ser de mera sobrevivência, ou seja, que lhe permite tão somente repor ou reproduzir sua força de trabalho. E o que o trabalhador produz, vale mais do que recebe em salário. Esse “mais” é apropriado pelo dono dos meios de produção, o que se chama muitas vezes apropriação do excedente de trabalho. De acordo com Marx, as condições específicas de trabalho geradas pela industrialização tendem a promover a consciência de que há interesses comuns para o conjunto da classe trabalhadora e, conseqüentemente, tendem a impulsionar sua organização política para a ação. A classe trabalhadora, portanto, vivendo uma mesma situação de classe explorada e sofrendo progressivo empobrecimento em razão das formas cada vez mais eficientes de exploração do trabalhador, acaba por se organizar politicamente. Essa organização é que permite a tomada de consciência da classe operária e sua mobilização para a ação política, descrito por ele no livro Manifesto do Partido Comunista, e que culminou na célebre frase “Proletários de todos os países, uni-vos!”

Foi pensada, por Marx, a renúncia à resistência contra a violência do capital, mas a classe trabalhadora se transformou em uma massa uniforme sendo explorados como escravos. Como, por exemplo, no Brasil em que a escravidão foi abolida há 123 anos e a exploração de escravos ainda existe, e por volta de 1850, nas plantações do Sul dos atuais EUA, um escravo custava em média o equivalente a 40 mil euros; hoje, em contrapartida, a sua cotação no mercado mundial ronda os 90 euros. Um outro fato que exemplifica que a exploração é que em 1948 a Carta Internacional dos Direitos do Homem consagrou a escravidão como um atentado à dignidade do ser humano, só que em 2004, calcula-se a existência de  27 milhões de escravos por todo o mundo que contribuem com o processo de retirar o máximo de proveito do trabalho.

Segundo Marx, o período de intensificação da violência do capital contra os trabalhadores devido a uma série de fatores como a “pacificação” funcionários, o mal uso do poder dos sindicatos e abundância da mão- de –obra, o excesso de pessoas acaba criando uma carta branca para que os donos sucateiem os direitos dos trabalhadores com a concessão dos operários, e os sindicatos agem como remédios sintomáticos, apenas lutando contra os sintomas porém mantendo o alicerce intacto. É como se todas as ideologias, ações dos sindicatos, propostas e discursos políticos fossem para legitimar a exploração dos proletários feitas pelos donos dos meios de produção. Essas instituições, na teoria, são feitas para melhorar a vida do trabalhador, porém, na prática, justificam a extração do máximo da força de trabalho e a manutenção da exploração do homem pelo homem.

Paralelamente ao trabalho escravo, há um contínuo desenvolvimento dos meios de produção que permite a exploração dos trabalhadores rurais e urbanos, assalariados. Tais recebem por uma pequena parte do que produzem, já que a grande carga horária serve para atender aos interesses de lucro dos grandes conglomerados capitalistas. Em outras palavras, o progresso científico foi – e ainda é – utilizado pelas elites para aumentar o cumprimento de sobretrabalho da sociedade, baseando-se numa ideologia manipuladora. Desse modo, aumenta-se os lucros das empresas e dos bancos internacionais, sem valorizar o trabalho das pessoas que são forçadas a aumentarem sua produtividade sem aumentar seus salários, gerando um tipo de trabalho que garante a perpetuação das injustiças sociais do sistema.

“A direção do capitalista não é só uma função específica surgida da natureza do processo social de trabalho e pertencente a ele, ela é ao mesmo tempo uma função de exploração de um processo social de trabalho e, portanto, condicionada pelo inevitável antagonismo entre o explorador e a matéria-prima de sua exploração.” K. Marx- O capital.

Uma resposta para “Exploração do homem – análise marxista

  1. Eu gostei muito do texto, muito bem escrito, as citações como “A história de toda a sociedade até hoje tem sido a história das lutas de classes.” e as associações com a escravidão foram muito bem colocadas.
    O texto deixou um pouco a desejar ao não explicar sobre a divisão de trabalho, que foi importante, pois se pegarmos como exemplo a confecção de um automóvel, com a divisão do trabalho, cada trabalhador passa a se dedicar apenas uma parte do trabalho, assim em menos horas confeccionam-se mais automóveis o que produz a mais valia, ou seja a diferença entre a produção sem a divisão do trabalho e com ela.
    O homem se aliena a partir do momento em que não só sua mão de obra é explorada mas perde-se a consciência de seu trabalho, pois quando ele participa apenas de uma etapa do processo ele passa a não saber mais o valor do seu trabalho e o seu significado para a sociedade. Assim o homem se transforma apenas em uma engrenagem da maquina capitalista.
    Para Marx o homem pode ser alienado sobre coisas que não são úteis a ele como física quântica, mas nunca pode ser alienado sobre seu trabalho.
    Sobre a eterna luta de classes, na minha opinião, ela nunca vai acabar pois as classes não serão abolidas, o que me lembra o livro `a revolução dos bichos de George Orwell. Nesse livro, os animais de uma fazenda onde são explorados então tomam o poder e passam a dominar os homens, porem a partir do momento em que uma minoria toma o poder, eles esquecem todo o intuito da revolução e dominados pela ânsia ao poder, tratam os outros animais da mesma forma em que eram tratados antes.
    Pode-se dizer que essa foi a historia da Revolução Russa, onde, após a revolução houve um socialismo utópico em que a maior parte da população passou a viver em péssimas condições e os governantes tinham toda espécie de privilegio.
    O socialismo real é muito interessante, mas talvez os homens ainda não estão prontos para ela, uma vez que a ambição deles é muitas vezes mais forte que a vontade de justiça.
    Ana Carolina Marcheti

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